SOU um autor em busca de personagens, pelo que me consta. Isto não é muito pirandeliano, mas é verdadeiro. Depois de "Tia Zulmira e Eu", de "Primo Altamirando e Elas" e de "Rosamundo e os Outros" esgotaram-se as edições (o que foi ótimo), mas se esgotaram também os personagens. Isto é, não ficava bem eu estar publicando coisas como "A volta de Tia Zulmira" ou de qualquer um dos outros dois, pois, na verdade, Tia Zulmira — como, de resto, Mirinho e o Rosa — nunca deixou de estar presente nos livros dos outros e vice-versa. Ora, é elementar: quem não foi não volta, e ter que explicar isto seria dedicar-se à enfadonha tarefa de ter que explicar o óbvio.
Assim sendo, resolvi acabar com os livros em que homenageava os personagens no título e passei a adotar a fórmula clássica entre os cronistas, coleguinhas que — ao publicarem seleções de crônicas — limitam-se a botar no título o nome da primeira crônica e pronto, está terminada a fofoca.
Foi, portanto, o que fiz. Apenas, para não deixar de homenagear ninguém, num país em que se vive a exaltação do medíocre, escolhi para título a história do garotinho que se deixou influenciar pelo mais recente método de democratização posto em prática no Brasil, e lasquei no alto da página o nome: "Garoto Linha Dura".
Na esperança de não ser considerado subversivo, subscrevo-me com cordiais saudações a todos.
(da Apresentação da obra)