
Quando o jovem Teodorico Raposo perde os pais, fica sob a guarda de Patrocínia, a Tia Titi, uma senhora tão rica quanto carola. E ela exige que o garoto seja devoto e casto.
Contudo, quando vai cursar Direito em Coimbra, Raposo vira Raposão e descobre as mulheres, o sexo e vira, enfim, um boêmio.
Mas, quando retorna a Lisboa e depara com uma possível herança da tia, que chega a guardar ouro numa bolsa verde, o rapaz passa a ter vida dupla. Para a tia, mesmo que a velha rabugenta desconfie, age como um santo. Mas sempre encontra brechas para aprontar.
Há, de fato, uma boa leva de adaptações de clássicos da língua portuguesa para as HQs nos últimos meses. Já saíram Os Lusíadas em versão de Fido Nesti (Peirópolis), O Alienista, por Fábio Moon e, mais recentemente, O Beijo no Asfalto, recontado por Arnaldo Branco e Gabriel Góes.
A Relíquia, obra do português Eça de Queiroz adaptada por Marcatti, entra nesse fenômeno curiosamente involuntário - as iniciativas são promovidas por editoras diferentes e dificilmente fariam parte de um plano maior e articulado. Por enquanto, são mais um reflexo da crescente explosão de títulos em bancas e livrarias vista nos últimos meses.
Mas A Relíquia se difere de seus assemelhados por um aspecto básico: é um caso em que os autores, o vivo e o morto, atuaram profundamente como parceiros. Marcatti não se curva à obra de Eça. Respeita-a, mas não deixa dúvida de que é um trabalho seu, com a marca pessoal fortíssima, indelével do quadrinhista tarimbado que é.
Há um diálogo e uma colaboração constante entre A Relíquia e seu adaptador. Marcatti pega Eça e o torna mais grosseiro, doentio, menos cínico e mais explicitamente mau. Lisboa se torna mais degradante em seu traço - e a psicologia da obra transpira pelos poros do cenário.
Eça, por sua vez, dá visibilidade a aspectos do trabalho de Marcatti que já apareciam camuflados em suas obras mais recentes: a maturidade e a consistência. A Relíquia é um trabalho sólido, de fôlego, que desde o lançamento é um marco do quadrinho nacional.
Curiosamente, a derrocada das fronteiras autorais magistralmente promovida por Marcatti é que cria o momento mais fraco da obra. Perto do final, Teodorico troca os embrulhos e dá à sua pérfida tia uma camisola em vez de uma relíquia católica. É um recurso que funciona em Eça, mas, retratado por Marcatti, soa estranho. Afinal, é pouco verossímil que personagens vistos pelo traço do quadrinhista mereçam uma punição.
O castigo gerado pela culpa acaba atrapalhando o desfecho do álbum, que volta a funcionar, não tem tempo para se recuperar do baque do leitor.
É uma estranheza que, aparentemente, não tem solução. E ainda que atrapalhe um pouco a fluidez, não tira os méritos desse trabalho hercúleo, conduzido magistralmente. Trata-se, ora, pois, de uma obra imperdível
“Adaptar A relíquia de Eça de Queiroz foi mais prazeroso do que um desafio. Logo de início, a história me sensibilizou por sua força e sarcasmo. Acabou por ser muito fácil construir seu roteiro. Simplesmente roubei a trama original e a tratei como se a idéia original fosse minha. Reescrevi todo o texto a meu modo, mas procurei manter o mesmo espírito e a mesma contundência original do mestre. Somente em duas ou três ocasiões utilizei trechos escritos pelo Eça. Destaco o recordatório do primeiro quadro da página 196 do livro. O conteúdo é demasiadamente ousado e eu não poderia ocultar tamanha coragem de Eça de Queiroz em escrever tal coisa no final do século 19.”
Marcatti
A Relíquia - Marcatti, adaptado de Eça de Queiroz
Páginas: 224
Tamanho: 2 x 30mb + 17mb
Servidor: Rapidshare
http://rapidshare.com/files/203111643/A_reliquia.part1.rar.html
http://rapidshare.com/files/203111670/A_reliquia.part2.rar.html
http://rapidshare.com/files/203120911/A_reliquia.part3.rar.html
Scans: Eudes
