Nos últimos anos, filmes baseados em revistas em quadrinhos tem pipocado nos cinemas mais do que escândalos políticos no Jornal Nacional.
Esse é controverso, e por isso a lista começa (ou termina?) com ele. V de Vingança, roteirizado e produzido pelos irmãos Wachowski (da Trilogia Matrix) foi (levemente) baseado numa grphic novel escrita por Alan Moore e desenhada por David Lloyd.
O filme conta a história de uma moça (Natalie Portman) que, numa Londres futurista e totalitária, é salva por um estranho sujeito mascarado de nome “V” (Hugo Weaving), que pretende iniciar uma revolução anarquista fazendo uso de sua inteligência e algumas pitadas de terrorismo (tá, foi uma sinopse beeeem rasteira).
Como disse, este foi um filme controverso. Fãs da graphic, em sua maioria, o execraram pois a adaptação dos Wachowski deixou de contemplar muitos pontos da HQ, mudando mesmo o embasamento ideológico da obra. Entretanto, os fãs de cinema que não necessariamente conhecem de quadrinhos, em geral ovacionaram bastante o filme, por se tratar de uma crítica política bem construída e empolgante. À época que vi o filme, eu estava mais no segundo grupo do que no primeiro, pois ainda não tinha lido a graphic. Resultado: gostei bastante do que vi, uma vez que trazia grandes similaridades com o clima de um dos meus livros favoritos - 1984, de George Orwell. Com o hype gerado pelo filme, a graphic foi relançada em uma bela edição, que eu adquiri e pude constatar: o filme devia muito à HQ, e mesmo tomava alguns decisões bastante questionáveis na condução do enredo. Entretanto, apesar de tudo isso, o filme funciona e alcança mais pessoas do que uma adaptação mais fiel talvez alcançaria. Razão pela qual marcou a rabeira deste Top 5 (hum… essa frase não ficou muito boa…).
Este filme sensacional, pouca gente sabe, foi baseado numa história em quadrinhos. Para ser mais exato, esta obra dirigida por Sam Mendes (Beleza Americana) se baseia numa graphic novel escrita por Max Allan Collins e Richard Piers Rayner, e que por sua vez, muitos apontam ter sido baseada num mangá (Lobo solitário! Quem poderia imaginar?).
Conta a história de um capo da máfia durante os anos 30 (Tom Hanks), que é idolatrado pelo filho, até que o garoto descobre, assistindo a um homicídio, o que o pai faz para ganhar a vida. Como o garoto sabe demais, a máfia decide eliminar a ele e sua família, mas Sullivan, interpretado por Hanks, se opõe, evidentemente. O filme então se ocupará de apontar essa relação, ambivalente, entre pai e filho fugitivos da máfia. Sensacional.
Dirigido e co-roteirizado por Bryan Singer (Os Suspeitos), X-men II, como fica evidente pelo nome, é a seqüência direta do filme de 2000, sendo ambos baseados no grupo de heróis mutantes da Marvel Comics criado em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby.
Numa sinopse ainda mais porca que as anteriores, X-men traz outra vez os mutantes vivendo num mundo que os odeia. Entretanto, a coisa piora quando um mutante (Noturno, vivido por Alan Cumming) atenta contra a vida do presidente dos Estados Unidos, invadindo a Casa Branca com seus poderes. Isso faz com que o governo dê poderes ao inescrupuloso Gen. William Striker (Brian Cox) para barrar o avanço da ameaça mutante. Esse cenário caótico então fará com que surja uma aliança improvável entre o Prof. Xavier (Patrick Stewart) e seus pupilos e o fugitivo Magneto (Ian McKellen) e sua parceira, Mística (Rebbeca Romijn).
Se X-men I não fora um grande filme (exceto pelo fato de que, ao menos eu, o considero o marco zero da volta dos heróis dos quadrinhos os cinemas em filmes de qualidade), o mesmo não se pode dizer de sua seqüência. Aqui, a mesma coisa que, creio, enfraquecera o primeiro filme, tornou-se o forte deste: o pouco conhecimento do diretor sobre o material original. Na época me preocupara muito com as declarações de Singer dizendo que não era leitor de quadrinhos, que nunca tinha lido uma revista dos mutantes na vida. X-men I mostrava que minha preocupação era justificada, pois foi um filme bom mas raso; já em X-men II, talvez por já estar um pouco adaptado ao mundo mutante, Singer largou mão das perfumarias e nadou na essência: é um senhor filme nerd sobre preconceito. O nomes dos personagens interessam pouco, seus poderes muito menos: Singer usou o Bobby Drake (o Homem de Gelo - Shawn Ashmore) para falar dos homossexuais e a estranheza que eles causam mesmo nos mais próximos; fez de Noturno e Mística uma chance de abordar a questão do negro e sua relação consigo próprio. Se não bastasse esse toque de gênio, ainda polvilhou tudo com ótimas cenas de ação, dignas o suficiente para que os fãs de quadrinhos pulassem das cadeiras na sala de exibição. O resultado? Um filme de heróis bom como poucos, que conseguiu transcender a mera exposição das brigas do bem contra o mal para mostrar que, no fundo, é tudo humano, demasiadamente humano.
A divisão que à partir daqui se segue, entre primeiro e segunda posições é meramente didática, digamos assim. Este e o próximo filme são excelentes e dignos do primeiro lugar, mas de formas diferentes. Vocês entenderão (espero).
Dirigido e co-roteirizado por Shari Springer Berman e Robert Pulcini (e contando nos roteiros com o próprio Harvey Pekar e sua esposa Joyce Brabner), “Anti-herói (…)” se baseia na revista em quadrinhos underground americana mais duradoura (a “American Splendor”) para contar a história de seu autor, o obsessivo Harvey Pekar (Paul Giamatti, num trabalho maravilhoso, capaz de se fundir ao personagem). Harvey é um sujeito comum, que leva uma vida pobre e comum nos EEUU mas que, influenciado por sua amizade com Robert Crump (James Urbaniak) e seu gosto por quadrinhos, decide contar seu dia-a-dia numa revista que acaba virando um sucesso.
O filme é pontuado, ora pela atuação do elenco capitaneado por Giamatti, ora pela fala do próprio Harvey e seus amigos e esposa, ajudando-nos a reconstruir a história riquíssima de um sujeito comum, como eu e você. Por ser uma biografia muito fiel (ao ver as falas do próprio Harvey você tem a certeza de que ele não permitiria que fosse diferente), não se precisa esperar finais fáceis, soluções dos conflitos à moda das novelas da Globo. Se as coisas acabam bem, é por influencia da mera casualidade que permeia nossas próprias vidas. “Anti-herói (…)”, apesar de contar a história de algo que se passou lá nos anos 70-80, é atualissímo nessa nova onde de ode ao homem comum que vivemos, com nossos “Big Brothers” e “Ídolos”.

Como eu disse anteriormente, a separação de primeiro e segundo, envolvendo justamente “American Splendor” e “Batman TDK” é meramente ilustrativa. Os dois filmes não se comparam, são absurdamente diferentes, com enfoques e pretensões diferentes. Dizer o contrário é a mais pura tolice que eu NÃO cometerei. Basta que se diga que ambos são melhores do que a terceira posição (X-men II). Inclusive, se você quiser trocar as ordens entre eles, fique à vontade.
Também dirigido e co-roteirizado por Christopher Nolan (que divide o guião, como chamam os lusitanos, com seu irmão Jonathan). BTDK (pra resumir) mostra o resultado da ação de Batman (Christian Bale) e o honesto Tenente James Gordon (Gary Oldman) sobre a criminalidade de Gotham City. Tudo parece melhorar quando surge um jovem promotor, Harvey Dent (Aaron Eckhart) disposto a dar mais um passo nessa luta contra o crime. Entretanto, essa conjuntura favorável faz da máfia de Gotham um rato acuado: sem ter para onde fugir, ele ataca. E esse ataque devastador tem um mentor: o caótico Coringa (Heath Ledger).
Diferente de Bryan Singer, Nolan partiu de um filme aclamado (Batman Begins) para construir uma trama ainda melhor em sua seqüência e, tal qual seu colega diretor dos dois primeiros filmes mutantes, chutou a perfumaria para o céu e nos brindou com uma história excelente, reflexiva e pé no chão: a essência do Homem Morcego.
Com o pulso firme, Nolan traz ao primeiro plano a questão: o que pode um homem de moral fazer em tempos (e num ambiente) totalmente imoral (como se questiona Harvey Dent numa cena emocionante)? Ou traduzindo: o que podem homens de princípios (Dent, Bruce/Batman e Gordon) quando estão imersos na total ausência de princípios? Os três têm algo a perder, quer sejam suas famílias , quer seja sua moral. Os criminosos de Gotham são combatíveis porque têm o que perder, mesmo que seja simplesmente dinheiro. E aí surge nova variável: um criminoso que simplesmente não tem nada, absolutamente nada a perder. Vazio, o Coringa é tudo: tudo o que o Batman e os cavaleiros reluzentes de Gotham talvez não possam vencer. Nas palavras do próprio Joker: a força irresistível se encontra com o objeto irremovível, e o resultado é o caos total.
Ainda que o roteiro peque num momento ao apresentar uma solução fácil demais, rousseauliana demais a um dos dramas gerados pelo enredo, o filme é uma obra prima, pois, como toda boa ficção, nos leva a questionar a realidade à partir de sua lente. E o que acabamos vendo é um tanto quanto desolador, se me permitem o pessimismo…
Após o sucesso estrondoso do suspense “O Sexto Sentido”, de 1999, o diretor M. Nigth Shyamalan surpreendeu público e crítica com um filme sobre um sujeito que sobrevive, ileso, a um acidente em que morrem todos os passageiros (131) do trem em que viajava. Quando digo surpreendeu, não quero dizer positivamente. Limitados, a maioria dos espectadores esperavam um filme com a mesma profissão de fé que fizera de “O sexto sentido” um sucesso: um mote e uma revelação supreendente ao final (infelizmente essa pecha segue o diretor até hoje, que tem seus filmes continuamente criticados porque, ao contrário do que o público espera, não são novos “O sexto sentido”).
Em “Corpo Fechado”, Bruce Willis é David Dunn, um ex-atleta desempregado, que vive de bicos como segurança por seu tamanho avantajado e a pinta de durão. As coisas vão mal em sua vida: o casamento desce ladeira abaixo, o emprego é sub, e ele é apenas uma sombra do que já foi. Até que um acidente muda tudo: um descarrilhamento de trens, 131 mortos e um sobrevivente: David Dunn. E sem nenhum arranhão!
A vida de Dunn segue, agora tendo esse mistério insondável como pano de fundo, até que ele conhece o estranho Elijah Price (Samuel L. Jackson) que lhe explica o mistério: Dunn é inquebrável, imune a doenças, um verdadeiro super herói como o dos gibis. E ele, Elijah, cujas crianças do bairro chamavam maliciosamente de “Sr. Vidro” (por ter os ossos absurdamente frágeis) não é ninguém menos que o vilão, seu arqui-inimigo!
“Corpo Fechado” não é outra coisa se não uma imensa homenagem ao gênero de super heróis. De tudo, desde a caracterização dos personagens (percebeu a repetição de sons de “David Dunn”, como “Peter Parker” ou “Clark Kent”?) até a idéia principal (de que a cada herói precisa existir um vilão) Shyamalan aponta seu interesse em referendar um tipo de história que habita o imaginário popular desde muito antes da publicação da Action Comics nº1 em 1938. Pena que a crítica e o público em geral, de olhos voltados para “O Sexto sentido”, não foi capaz de percebê-lo. E pobre de Shyamalan que ressignificou o conceito freudiano de “arruinados pelo êxito”: ao acertar logo na entrada, vetou a correta apreciação de seus (excelentes) filmes subsequentes…
…
Bem, é isso.
O que acharam deste Top 5? Opiniões, sugestões e críticas são muitíssimo benvindo! Só não vale xingar a mãe, ok?