O Edifício - Uma história sobre a vida e morte de um edifício - Will Eisner 
Poucos como Will Eisner souberam utilizar tão bem este meio para tratar de temas tão próximos de nós como são o trabalho, os problemas familiares, a emigração, o casamento,enfim, a vida corriqueira de uma pessoa normal.

Eisner é o criador de The Spirit, o herói mascarado que ”ressuscitou” dos mortos para ajudar o comissário Dolan no combate ao crime, e que está agora a ser adaptado ao cinema pela mão de Frank Miller, um outro grande autor de que um dia falaremos aqui.
A partir do final dos anos 70, Will Eisner dedicou-se a criar algo mais maduro, mais adulto, explorando o tema da condição humana em relatos mais longos num formato a que se convencionou chamar de “romances gráficos” (“graphic novels”).
Tirando partido das suas experiências e vivências pessoais, Will Eisner deixou-nos um legado magnífico de contos pungentes, dramáticos e reais dos quais “The Building” (O Edifício) é um dos melhores.
Já pensaram no que resta depois que um prédio é demolido? Eisner coloca a si mesmo essa pergunta no prólogo deste livro e foi esse o ponto de partida para esta história que começa com a construção de um edifício moderno sobre os “destroços psíquicos” de um prédio velho já de 80 anos.

Já depois de o novo edifício estar erguido, vemos (só nós, leitores) quatro fantasmas que permanecem à espera junto à entrada, como se soubessem que algo está para acontecer.
Todos eles têm uma ligação ao antigo edifício e assuntos que ficaram por resolver. Fazendo uma apresentação breve das personagens, temos:

Monroe Mensh que em vida, apesar de várias tentativas, nunca conseguiu ultrapassar ou compensar o trauma por não ter sido capaz de evitar a morte de uma criança. Apesar de todo o seu esforço, dedicação e boa vontade, tudo o que fez depois desse trágico acontecimento mostrou-se inglório e sem o resultado pretendido.
Gilda Green escolheu a segurança em detrimento da paixão da adolescência e casou-se com alguém que lhe deu estabilidade no dia a dia. No entanto, não conseguiu separar-se definitivamente do seu amante que, por seu lado, não teve olhos para mais ninguém a não ser ela. Gilda manteve, com o consentimento e interesse do marido, um casamento de conveniência e nunca deixou de encontrar-se com o seu amado poeta até ao fim, mas sempre sem dar o passo para assumir a sua verdadeira vontade.
Antonio Tonatti, amante de música e tocador de violino, excelente como amador mas faltando-lhe a centelha para se tornar profissional, não pode dedicar-se exclusivamente à arte por precisar de trabalhar. Assim, tocava para os amigos, para a família e sobretudo para si próprio.
Quando, após um acidente, ficou incapacitado para o trabalho, foi para a entrada do edifício encantar os passantes com as belas melodias que extraía das cordas do seu violino. Aí continuou por muito tempo até que, coincidindo com o início da demolição do velho prédio, a sua saúde começou a definhar e Antonio já não assistiu à inauguração do novo.

P.J. Hammond estava ligado sentimentalmente ao velho edifício por ter sido de seu pai, que o levara lá muitas vezes na sua infância. Depois de ter herdado o negócio do pai mostrou uma verdadeira obsessão pelo edifício, que tinha sido vendido entretanto. Querendo recuperar a sua posse a qualquer custo, não hesitou em recorrer a métodos baixos para obtê-lo mas a partir de então tudo começou a correr mal e a sua história terminou da pior maneira.
Todas estas quatro vidas terminaram quase em simultâneo com a substituição do velho edifício pelo novo empreendimento. Todas tiveram uma existência sem realização pessoal e um fim semelhante à decadência física dos materiais que sustentavam este elo de ligação entre os quatro. No entanto, como poderão ver os que lerem este livro, foi-lhes concedida postumamente a oportunidade de fazer algo que alterou drasticamente o curso da vida de algumas pessoas.
Will Eisner consegue através de uma linguagem gráfica que é simultaneamente simples e inventiva (por ex., poucas vezes usa a delimitação física de um quadrinho) e de diálogos perfeitamente naturais, que podíamos ouvir em nossa casa ou ao cruzarmo-nos com alguém na rua, fazer-nos seguir com interesse estas quatro vidas. Ele é exímio em relatar-nos excertos do quotidiano que sendo baseados na sua própria experiência, os torna bastante reais e, por isso mesmo, não faz nenhuma concessão de modo a permitir um final de vida feliz a estes personagens (até quase que podemos “acusá-lo” de um certo pessimismo). No entanto, o final da história pede-nos que deixemos de lado o nosso cepticismo e suspendamos a nossa crença na realidade para que possamos aceitar a “verdade” que está nesta citação de John Ruskin:

“Os edifícios antigos não nos pertencem. Em parte, são propriedade daqueles que os construíram; em parte, das gerações que estão por vir. Os mortos ainda têm direitos sobre eles; aquilo por que se empenharam não cabe a nós tomar. Temos liberdade de derrubar o que construímos. Da mesma forma, o direito sobre obras a que outros homens dedicaram a vida para erigir não desaparece com a sua morte.”
Em suma, é uma obra altamente recomendável que surpreenderá positivamente quem nela pegar.
Livros como este fazem-nos ver que há nos quadrinhos algo mais do que histórias simples e infantis. A sua leitura dá-nos uma satisfação mais perene e abre caminhos para que procuremos algo com um conteúdo mais recompensador.
Autores: Will Eisner (texto e arte).
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Fevereiro de 1989
Editora: Abril
Servidor: Rapidshare
Tamanho: 13 mb

Poucos como Will Eisner souberam utilizar tão bem este meio para tratar de temas tão próximos de nós como são o trabalho, os problemas familiares, a emigração, o casamento,enfim, a vida corriqueira de uma pessoa normal.

Eisner é o criador de The Spirit, o herói mascarado que ”ressuscitou” dos mortos para ajudar o comissário Dolan no combate ao crime, e que está agora a ser adaptado ao cinema pela mão de Frank Miller, um outro grande autor de que um dia falaremos aqui.
A partir do final dos anos 70, Will Eisner dedicou-se a criar algo mais maduro, mais adulto, explorando o tema da condição humana em relatos mais longos num formato a que se convencionou chamar de “romances gráficos” (“graphic novels”).
Tirando partido das suas experiências e vivências pessoais, Will Eisner deixou-nos um legado magnífico de contos pungentes, dramáticos e reais dos quais “The Building” (O Edifício) é um dos melhores.
Já pensaram no que resta depois que um prédio é demolido? Eisner coloca a si mesmo essa pergunta no prólogo deste livro e foi esse o ponto de partida para esta história que começa com a construção de um edifício moderno sobre os “destroços psíquicos” de um prédio velho já de 80 anos.

Já depois de o novo edifício estar erguido, vemos (só nós, leitores) quatro fantasmas que permanecem à espera junto à entrada, como se soubessem que algo está para acontecer.
Todos eles têm uma ligação ao antigo edifício e assuntos que ficaram por resolver. Fazendo uma apresentação breve das personagens, temos:

Monroe Mensh que em vida, apesar de várias tentativas, nunca conseguiu ultrapassar ou compensar o trauma por não ter sido capaz de evitar a morte de uma criança. Apesar de todo o seu esforço, dedicação e boa vontade, tudo o que fez depois desse trágico acontecimento mostrou-se inglório e sem o resultado pretendido.
Gilda Green escolheu a segurança em detrimento da paixão da adolescência e casou-se com alguém que lhe deu estabilidade no dia a dia. No entanto, não conseguiu separar-se definitivamente do seu amante que, por seu lado, não teve olhos para mais ninguém a não ser ela. Gilda manteve, com o consentimento e interesse do marido, um casamento de conveniência e nunca deixou de encontrar-se com o seu amado poeta até ao fim, mas sempre sem dar o passo para assumir a sua verdadeira vontade.
Antonio Tonatti, amante de música e tocador de violino, excelente como amador mas faltando-lhe a centelha para se tornar profissional, não pode dedicar-se exclusivamente à arte por precisar de trabalhar. Assim, tocava para os amigos, para a família e sobretudo para si próprio.
Quando, após um acidente, ficou incapacitado para o trabalho, foi para a entrada do edifício encantar os passantes com as belas melodias que extraía das cordas do seu violino. Aí continuou por muito tempo até que, coincidindo com o início da demolição do velho prédio, a sua saúde começou a definhar e Antonio já não assistiu à inauguração do novo.

P.J. Hammond estava ligado sentimentalmente ao velho edifício por ter sido de seu pai, que o levara lá muitas vezes na sua infância. Depois de ter herdado o negócio do pai mostrou uma verdadeira obsessão pelo edifício, que tinha sido vendido entretanto. Querendo recuperar a sua posse a qualquer custo, não hesitou em recorrer a métodos baixos para obtê-lo mas a partir de então tudo começou a correr mal e a sua história terminou da pior maneira.
Todas estas quatro vidas terminaram quase em simultâneo com a substituição do velho edifício pelo novo empreendimento. Todas tiveram uma existência sem realização pessoal e um fim semelhante à decadência física dos materiais que sustentavam este elo de ligação entre os quatro. No entanto, como poderão ver os que lerem este livro, foi-lhes concedida postumamente a oportunidade de fazer algo que alterou drasticamente o curso da vida de algumas pessoas.
Will Eisner consegue através de uma linguagem gráfica que é simultaneamente simples e inventiva (por ex., poucas vezes usa a delimitação física de um quadrinho) e de diálogos perfeitamente naturais, que podíamos ouvir em nossa casa ou ao cruzarmo-nos com alguém na rua, fazer-nos seguir com interesse estas quatro vidas. Ele é exímio em relatar-nos excertos do quotidiano que sendo baseados na sua própria experiência, os torna bastante reais e, por isso mesmo, não faz nenhuma concessão de modo a permitir um final de vida feliz a estes personagens (até quase que podemos “acusá-lo” de um certo pessimismo). No entanto, o final da história pede-nos que deixemos de lado o nosso cepticismo e suspendamos a nossa crença na realidade para que possamos aceitar a “verdade” que está nesta citação de John Ruskin:

“Os edifícios antigos não nos pertencem. Em parte, são propriedade daqueles que os construíram; em parte, das gerações que estão por vir. Os mortos ainda têm direitos sobre eles; aquilo por que se empenharam não cabe a nós tomar. Temos liberdade de derrubar o que construímos. Da mesma forma, o direito sobre obras a que outros homens dedicaram a vida para erigir não desaparece com a sua morte.”
Em suma, é uma obra altamente recomendável que surpreenderá positivamente quem nela pegar.
Livros como este fazem-nos ver que há nos quadrinhos algo mais do que histórias simples e infantis. A sua leitura dá-nos uma satisfação mais perene e abre caminhos para que procuremos algo com um conteúdo mais recompensador.
Autores: Will Eisner (texto e arte).
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Fevereiro de 1989
Editora: Abril
Servidor: Rapidshare
Tamanho: 13 mb
